Eu li Jamie, de L.D. Lapinski

Acho que uma das coisas mais legais que acontecem no mudo é a gente se reconhecer numa arte. E, apesar de já ter me visto em Panetones Baratos de Cássio Cipriano, Jamie, de L. D. Lapinski foi a primeira vez que eu realmente enxerguei um personagem não-binário como eu.

O livro conta a história de Jamie Rainbow Rambeau, uma criança de 11 anos que, ao perceber que precisa escolher entre uma escola de meninos ou meninas e se estuda com seus melhores amigos, já que cada um deles vai para uma das escolas, as coisas começam a ficar complicadas. 

Ser não-binário pode ser angustiante. Mas é importante que você entenda a diferença entre identidade de gênero e expressão de gênero. 

A identidade de gênero é o gênero com o qual a pessoa se identifica, pode ser homem, mulher, ambos, nenhum dos dois ou qualquer outro gênero. Já a expressão de gênero é a forma como a pessoa mostra sua identidade de gênero através de suas ações, roupas, maquiagem e outros aspectos visuais. Essa expressão é influenciada pela cultura, sociedade e suas próprias preferências pessoais. É importante saber que identidade e expressão de gênero são coisas diferentes e não precisam estar relacionadas. Por exemplo, uma pessoa que se identifica como mulher pode usar roupas masculinas e vice-versa. Todos devemos entender e respeitar a identidade e a expressão de gênero de cada um, para que possamos criar uma sociedade inclusiva e diversa, onde todas as pessoas possam se sentir seguras e respeitadas em sua identidade de gênero.

Eu amo meus pronomes. :)

É nesse contexto que Jamie se apresenta. Muita gente acha que é só uma fase, principalmente os pais quando a não-binaridade se apresenta quando a criança é muito jovem. Mas Jamie sabe o que quer. Junto com seus amigos, elu se impõe e mostra a que veio. Influencidade por seu irmão, que também é uma pessoa queer, Jamie entende que às vezes, mesmo não querendo, é necessário fazer barulho. E no caso delu, não foi muito barulho por nada: deu muito certo. O que acontece na história? Bem, você vai precisar ler para saber.

Uma coisa que eu achei muito interessante foram algumas informações sobre gênero e LGBTQ+ em geral que aparecem no meio do livro de forma muito didática. Eu lembro que, quando eu comecei a questionar meu gênero de verdade, eu li What's The T, de Juno Dawson (Juno escreveu "Este Livro é Gay", porém, a Editora Martins Fontes até hoje não corrigiu o livro com o nome e pronome correto da autora e já está há pelo menos 3 anos publicando o livro com o nome morto de Juno. Por esse motivo, não vou colocar o link deste livro aqui.). Foi muito esclarecedor pois pude entender melhor o que é ser uma pessoa não-binária (e trans) e como isso afeta tudo o que eu me relaciono. Com Jamie, eu pude enxergar como teria sido minha vida se aos 11 anos eu tivesse a oportunidade de ter me reconhecido assim. 

No fim do dia, estar perto de pessoas que usam seu pronome corretamente, seu nome, e reconhecem sua vivência e dificuldade faz toda a diferença. Será que é por isso que eu tenho sentido tanto cansaço ultimamente?

Jamie foi um dos melhores livros que eu li esse ano e me fez voltar a olhar a escrita com outros olhos. Quem sabe esse não é um caminho que eu precise seguir?

Jamie, está disponível apenas em inglês. Apesar de ser publicado no Reino Unido, pode ser lido aqui no Brasil pelo Kindle por menos de 20 reais.

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